
Há hoje, em África, intelectuais de grande notabilidade mesmo internacional. O primeiro que citarei é Agostinho Neto (Angola), Jorge Barbosa (Cabo Verde), José Craveirinha (Moçambique), Marcelino dos Santos (Moçambique), José Luandino Vieira (Angola), dentre outros que deixaram, em grande parte ou às vezes totalmente a denominada “Literatura Colonial”, que não possuía certa africanidade. Assim, esses e tantos escreveram e escrevem prosa e poesia com sentimento áfrico, nacional e não externo.
A expansão da língua português deu-se devido aos vários idiomas, em parte desaparecidos. Moçambique possuía 20 idiomas. Angola o “ português “ e o “quimbundo” defrontavam-se. Houve uma espécie de “ nacionalização” daquela pelos africanos.
Registre-se : o escritor Luis Bernado Honwana, natural de Maputo, autor de “ Nós matamos o cão Tinhoso” ( contos), “ a língua portuguesa é nossa também” , quando palestrava na Universidade de Minnesota – Estados Unidos, em 1979 e a platéia observou o fato. A pergunta era : “ Por que, após a independência os escritores de Moçambique não abandonaram a língua do colonizador?” Explicou : “ Com a independência a literatura em África toma, igualmente, um tom satisfeito e a “ nacionalização da língua portuguesa é eivada de neologismos, termos idiomáticos e misturas com palavras portuguesas”. A língua foi reinventada e continua na literatura contemporânea do continente afro”, explicou.
Assim, independentes, os escritores africanos defendem intensamente, em suas obras , a cultura africana própria e afirmam sua diversidade. Enriquecem o linguajar comum, mantêm a africanidade, fazem parte do português que é falado em todo o mundo. Há porém, criatividade e liberdade, sem padrões europeus, com normas cultas, alargando suas identidades.
“ Mayombé” é um romance étnico. Depois das lutas de libertação e da relativa paz africana, o pós colonialismo se faz duro, mas firme. Em Angola, Manoel Rui lançou “Quem me dera ser onda”, mostra um porco habitante em um apartamento de família, causando transtornos: crítica de ironismo ao pós independência, novos ricos, populismo político e estrutura social que se precisa firmar.
Na Guiné-Bissau vê-se a obra de Abdulai Sila, com “Eterna Paixão”. Há no romance um personagem afro-americano e se mostra o pós- colonialismo de modo decepcionante. Em 97 vem “ Místida”, metafórico em seus personagens, esses perdem a memória, o dom da palavra, a visão decadência em paralelo ao tempo.
África de 1957 a 2009 e crescendo até 2013 amadura embora dentro de guerras civis e caos social. O desenvolvimento de Pepetela é extraordinário: Ainda em 2008 leva ao público “ O Quase Fim do Mundo” . Em estilo, policial apresenta “ Jaime Bunda”, e a “ Morte do Americano”, paródia de James Bond, movimentado e original. Nesses livros trata do “neocolonialismo americano”. Em 2005 “ Predadores” desse intelectual denuncia “ As novas elites e o ambiente político favorecedor”.
Há de frisar-se o papel em literatura em geral dos angolanos José Eduardo Agualusa e Ana Paula Tavares e do Moçambicano Mia Couto. Agualusa tem mais de 20 publicações desde 89 – romances, novelas, poesias, contos, e guias, o que o levou a receber coleção de prêmios; seu primeiro romance “ A Conjura” ganhou Prêmio Sonangol. A poetisa ou poeta Ana Paula Tavares inicia-se com “Ritos de Passagem “. Publica também contos e, em coautoria , Os Olhos do homem que chorava no RIO, junto com Maoelo Jorge Marmelo. Em 2007, é seu ultimo trabalho “ Crônica Para Amantes Desesperados”.
Nessa fase, desde Agualusa até Mia Couto que se desenvolvem cada vez mais vários autores já publicam fora de África e traduzidos mesmo para outros idiomas. África tem poucas editoras, mas os preços dos livros editados são impeditivos para os povos africanos em geral, nem sequer circulam nesse continente, os autores pouco se conhecem, salvo em eventos literários no exterior, porém a situação vai melhorando cada vez mais e melhor.
Muitos conheceram-se no Brasil, em Pernambuco e em outras partes no Rio e São Paulo.
Paulina afirma: “ Em Moçambique, há praticamente duas religiões : no sul e no interior a Cristã no litoral e ao norte a Muçulmana”. Fala Paulina em racismo entre os próprios africanos. Como a escritora Dina Salústio (Cabo Verde) é modesta em relação à sua obra : “ sou apenas mulher que escreve umas coisas…” Outra figura importante da literatura lusófona foi o jovem Onjdaki, 31 anos, 12 livros publicados ( contos, poesias e romances). É de Luanda. Guiné- Bissau tem representante, entre outros no poeta e jornalista Tony Tcheka (António Soares Lopes).
Geanfranco Rivasi, do Conselho de Cultura do Vaticano afiança: “A globalização mal – entendida, da qual são vítimas os países mais pobres ( refiro-me à África) leva a destruição de valores veiculados pelas tradições culturais ancestrais, à desestabilização das consciências e ao desarraigamento cultural de inteiras gerações induzidas em espiral que as conduz da pobreza à miséria…”
*Germano Machado é Professor aposentado da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e da UCSAL (Universidade Católica do Salvador). Fundador do CEPA – Circulo de Estudo Pensamento e Ação.